POEMA
FUNDO DO MAR
“No fundo do mar há brancos pavores,
Onde as plantas são animais
E os animais são flores.
Mundo silencioso que não atinge
A agitação das ondas.
Abrem-se rindo conchas redondas,
Baloiça o cavalo-marinho.
Um polvo avança
No desalinho
Dos seus mil braços,
Uma flor dança,
Sem ruído vibram os espaços.
Sobre a areia o tempo poisa
Leve como um lenço.
Mas por mais bela que seja cada coisa
Tem um monstro em si suspenso.”
Fundo do Mar in POESIA
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POESIA
de Sophia de Mello Breyner Andresen.
edição: Assírio & Alvim, novembro de 2019 ‧ isbn: 978-972-37-1701-3
SINOPSE
«Assim surgia uma língua, nova e límpida. Era o ano de 1944, Sophia publicava o primeiro livro, com o mais justo dos títulos: Poesia. Todos os livros seguintes poderiam receber o mesmo baptismo, o mesmo nome preciso: essa condição de poesia, que é feitura do poema, trabalho oficinal, mas também resgate entre ruínas e morte, renascimento da exaltação. Ou seja: agon, combate pela forma, combate contra as ruínas do mundo, surpresa final das mãos nunca vazias. Pois esta poesia nasce num lugar esgotado, deserto; e é apesar das ruínas que de tudo se ergue o poema. Forte, elemental, sim; mas jorrando do terror, de ruínas que não falam, de uma língua herdada já exangue.» (Pedro Eiras)
As edições de Sophia de Mello Breyner Andresen na Assírio & Alvim preservam a antiga grafia.