Racionalmente, acho que todos devíamos ser apenas cidadãos do mundo. Todos devíamos ser orgulhosos por sermos “terrestres”. Devíamos nos sentir privilegiados por vivermos neste planeta rico, cheio de vida e paisagens de cortar a respiração. Talvez, se nos sentíssemos mais “terrestres”, trataríamos o planeta de forma diferente, com respeito ao ambiente, à flora e fauna, e até uns com os outros. Talvez houvesse menos guerras, menos violência, menos fome, menos desigualdades, porque afinal de contas, somos todos terrestres… Talvez…
No entanto, a evolução do Homem neste planeta foi bastante complexa. O instinto de sobrevivência e de ambição levou o Homem a erguer muralhas e a disputar territórios. As diferenças entre as populações foram-se intensificando: diferentes costumes, línguas, crenças, valores… Surgiram nações, e com elas o nacionalismo e o patriotismo.
Foi neste contexto que surgiu Portugal. D. Henrique veio ajudar o rei de Castela e Leão a expulsar os muçulmanos e a sua própria ambição de querer governar um território independente lançou as bases para que o seu filho, o nosso conquistador D. Afonso Henriques, tornasse um Condado Reino, e assim nascesse Portugal.
A formação da nossa nação não foi fácil… D. Afonso Henriques teve primeiro que lutar contra a sua mãe, D. Teresa, para ser ele a governar o Condado Portucalense que tinha sido oferecido ao seu falecido pai pelos seus serviços prestados ao rei de Leão e Castela. Depois, teve de lutar contra o seu primo, o novo rei de Leão e Castela, D. Afonso VII, para tornar o Condado independente. E, como se não chegasse, tinha ao mesmo tempo que se preocupar com a pressão dos Almorávidas a Sul.
Não é por acaso que o cognome do nosso primeiro rei é Conquistador. Travou várias batalhas contra galegos e mouros com bastante sucesso. Após a batalha de Ourique, em 1139, onde venceu cinco(!) reis mouros, passou a autointitular-se como rei de Portugal. Só em 1143, através do Tratado de Zamora, conseguiu o reconhecimento de independência por parte do primo.
Como portugueses, é de elogiar e de nos sentirmos orgulhosos por Portugal ter sido criado com tanta bravura! Mas analisando de forma fria… lutas contra mãe e primos? Quantos soldados morreram nessas guerras? Quantas mulheres ficaram viúvas e filhos que ficaram sem pai? Apenas pelo capricho de tornar um pedaço de terra independente e pelo ganho de poder.
Mas foi assim que nasceu Portugal. E a nossa História, como nação, continuou. Expulsámos os muçulmanos e definimos as nossas fronteiras em 1297, com o Tratado de Alcanises. Os nossos territórios ganharam vida, costumes, tradições. Sobrevivemos à Peste Negra e a maus anos agrícolas que provocaram a morte a uma boa parte da nossa população. Resistimos à invasão castelhana, que pretendia os nossos territórios, graças a D. Nuno Álvares Pereira e à sua tática do quadrado na Batalha de Aljubarrota.
Já no século XV, fomos nós que decidimos alargar os nossos territórios. Aventuramo-nos por mares nunca antes navegados (pelos europeus) e tornamo-nos no maior Império do Mundo! Que orgulho na nossa História! Mas, analisando outra vez de forma fria, quantas pessoas fizemos de escravos, quantas pessoas perderam a sua liberdade, quantos territórios dizemos que descobrimos, mas que simplesmente explorámos, mais as pessoas que já lá estavam?
E a nossa História continuou como grande Povo, herói evidenciado por Luís de Camões na sua obra “Os Lusíadas”. Até que D. Sebastião decide aventurar-se no norte de África. “Desapareceu” no nevoeiro e provocou um problema de sucessão que nos custou a independência! Durante 60 anos houve Portugal, mas unido com Espanha. Foi no dia 1 de dezembro de 1640 que um conjunto de nobres aproveitou o enfraquecimento da Espanha e a ausência do rei em Portugal para organizar uma conspiração para matar a vice-rei de Portugal, a duquesa de Mântua. Bem-sucedidos, aclamaram a Restauração da Independência.
Com a União Ibérica Portugal perdeu grande parte dos seus territórios e do seu poder enquanto império. A situação melhorou quando descobrimos ouro no Brasil, o que permitiu D. João V viver em luxo e ostentação. Com esta riqueza ganhou a Nobreza na qualidade de vida e o Clero no seu poder sobre a população. O Povo, esse, trabalhava para o sustento da minoria.
Pouco tempo depois, no reinado de D. José I, em 1755, um grande terramoto abalou o país, sobretudo na região de Lisboa, deixando a cidade completamente destruída. Surge Marquês de Pombal, ministro de D. José, que “enterra” os mortos e reconstrói a cidade de Lisboa, à imagem do poder absoluto do seu rei, que apesar de absolutista, governa para o bem do povo! A baixa lisboeta ganha uma nova imagem e foram feitas várias reformas económicas, políticas, sociais e no ensino. Marquês de Pombal utilizou a Burguesia como motor de desenvolvimento económico do país, e retirou poder às classes privilegiadas, ou seja, ao Clero e à Nobreza, e conseguiu modernizar o país.
No entanto, a nossa História não começou fácil, e continuou a não ser fácil. Amigos da Inglaterra, não aderimos ao Bloqueio Continental imposto pela França que queria enfraquecer os ingleses para os conquistar. Como consequência, vieram os franceses para nos conquistar. Neste período, Portugal tinha uma rainha, D. Maria I, viúva e doente. Por isso, o reino era governado pelo seu filho, o príncipe João. Com medo de ser presa pelas tropas francesas, a família real parte para o Brasil. Veio Junot (1807), Soult (1809) e Massena (1810). Com a ajuda dos ingleses, resistimos às três invasões francesas. Mas, o agora rei D. João VI, decidiu manter-se na colónia do Brasil, conferindo-lhe cada vez maior poder e regalias. A população, em Portugal, descontente com a situação do reino, agravada com a presença dos ingleses que se estavam a aproveitar para controlar o nosso comércio, preparou uma revolução baseada nas ideias liberais trazidas de França. Foi em 1820 que ocorreu a Revolução Liberal. Os ingleses foram expulsos e o rei D. João VI foi obrigado a voltar e a governar segundo um regime liberal.
Por sua vez, o seu filho D. Pedro fica no Brasil, que o torna independente. Por isso, é D. Miguel, o seu irmão, que fica como regente de Portugal após falecimento de D. João VI. Mas D. Miguel, com o apoio da nobreza e do clero, torna-se rei absoluto e persegue os liberais. D. Pedro deixa o Brasil e vem lutar contra o seu irmão para que Portugal não volte a ser governado segundo um regime absolutista. Assistimos assim a uma Guerra Civil em Portugal (de um lado os Absolutistas, liderados por D. Miguel, e do outro lado os Liberais, liderados por D. Pedro). Saíram vitoriosos os defensores do liberalismo.
Finalmente um período de paz que nos permitiu desenvolver o país e garantir melhores condições de vida à população. Em 1852, foi criado o Ministério das Obras Públicas, dirigido por Fontes Pereira de Melo. Aplicou uma política de construção de obras públicas (estradas, pontes, portos, caminhos-de-ferro, ligações teleféricas, etc…), surgiram novos meios de transporte e de comunicação, o que permitiu uma maior mobilidade de pessoas, maior circulação de ideias e informações e a deslocação de mais mercadorias em menos tempo. Desenvolveu-se a agricultura, a indústria e modernizou-se o ensino.
Apesar do desenvolvimento do país, o nível de vida e de modernização continuava muito abaixo quando comparado com outros países da Europa. Não havia postos de emprego para todos nas cidades. Muitos dos trabalhos eram mal pagos apesar de se trabalhar duramente muitas horas diárias. Sendo assim, muitas pessoas decidiram ir procurar melhores condições de vida no estrangeiro, sobretudo para o Brasil, países da América Central e para os Estados Unidos da América.
A situação do reino não era a melhor, e começou a defender-se o republicanismo. Os ingleses fizeram um Ultimato a Portugal, devido à pretensão dos portugueses em unir os territórios de Angola a Moçambique, ao qual cedemos, o que veio aumentar ainda mais o descrédito que já havia na Monarquia. No dia 1 de fevereiro de 1908, o rei D. Carlos I foi morto a tiro quando passava de carruagem pelo Terreiro do Paço em Lisboa. Com ele morreu o herdeiro do trono D. Luis Filipe. Ficou a governar o seu irmão D. Manuel II. Na manhã de 5 de outubro de 1910, houve mais uma revolta, desta vez com sucesso, e foi proclamada a República, acabando assim com a Monarquia.
Aqui entra a nossa História mais recente. Surgem os símbolos atuais da nossa nação: a bandeira da República e o hino nacional. Por sua vez, a moeda escudo substitui o real. Hoje já somos mais europeus e adotámos o euro.
No entanto, a 1ª República atravessou vários problemas que fez crescer, outra vez, o descontentamento da população. A participação de Portugal na I Guerra Mundial contribuiu para o endividamento do país, aumentaram-se os impostos, havia greves, revoltas e assaltos. Os governos mudavam frequentemente e os presidentes ou se demitiam ou eram demitidos. Só entre 1910 e 1926 houve 8 presidentes e 45 governos.
Os militares tomaram o poder, através de um golpe de estado, no dia 28 de maio de 1926. Passámos a viver segundo uma ditadura, onde as liberdades e direitos dos cidadãos não eram respeitados. A situação económica do país só melhorou com a chegada de António Salazar a ministro das Finanças. Aumentou as receitas, através de impostos, e reduziu as despesas do Estado, através da redução de gastos com a Educação, Saúde e com os salários dos funcionários públicos. Em 1932, Salazar foi nomeado Presidente do Conselho de Ministros, ou seja, passou a ser o chefe do Governo. Elaborou a Constituição de 1933 para dar uma aparência democrática ao seu regime. Contudo, as eleições não eram verdadeiramente livres e os direitos e liberdades dos cidadãos nem sempre foram respeitados. Foi constituído novamente o Parlamento que apenas servia para aprovar as leis impostas pelo governo.
Ainda hoje Salazar é um assunto controverso. Durante o Estado Novo construíram-se estradas, barragens, hospitais e edifícios públicos. Modernizou-se o país, e combateu-se o desemprego junto das áreas urbanas e desenvolveu-se o turismo. A Ponte 25 de abril, que liga Lisboa à margem sul do Tejo, foi um projeto da sua responsabilidade. Os cofres do estado encheram-se de ouro. Nem tudo foi mau durante o Estado Novo, por isso ainda hoje existem defensores da sua obra a serviço de Portugal. Mas quem gostaria de viver num mundo sem liberdade de expressão, sem que os seus direitos fossem respeitados? Essa “riqueza” garantia a qualidade de vida da população? Até onde deve ir o sentimento de nacionalismo e patriotismo?
A ânsia de liberdade fez crescer um movimento contra o regime de Salazar, e foi já com Marcelo Caetano no poder que, no dia 25 de abril de 1974, nos libertámos do ultranacionalismo que nos faz ser menos pessoas, menos livres. A democracia foi restituída e a população podia voltar a viver e a reunir-se sem medo da PIDE. Podia, finalmente, exprimir-se de forma livre!
A entrada na CEE, em 1986, tornou-nos mais europeus. A entrada do dinheiro europeu permitiu o desenvolvimento do país e a melhoria da qualidade de vida da população. Desde então, atravessámos períodos de crise, outros de desenvolvimento económico. Neste momento, estamos a atravessar uma grave crise sanitária que está a causar novamente uma grave crise económica. Ou seja, continuamos nos altos e baixos.
Iniciei este artigo com a opinião que nos devemos considerar cidadãos do mundo acima de qualquer ideologia e nacionalismo. Basta ver como um vírus que surgiu na China afetou o mundo inteiro de forma tão significativa. Lembra-nos como somos todos iguais e que temos lutas em comum. Mas há algo em ser português que é especial. Está intrínseco em mim o orgulho em ser português. A nossa História não é perfeita, mas é o que nos tornou o que somos hoje. Somos lutadores, somos resilientes, somos capazes de atravessar obstáculos que parecem impossíveis, somos bondosos, somos calorosos, somos recetivos. Somos realmente um Povo herói que atravessa mais um momento difícil. Conhecendo a nossa História, sabemos que é só mais uma fase, e temos toda a força, criatividade e engenho para nos reinventarmos. No passado do nosso país, nem sempre fomos os mais bondosos e corretos. Ninguém é perfeito, tal como a nossa nação. Mas é a nossa nação, e somos o que somos graças a ela.
Neste momento, somos nós que estamos a escrever a História do nosso país. São as nossas ações e conquistas que vão marcar o seu rumo e o que vai ser contado nas próximas gerações.
Eu tenho orgulho em ser português, e em fazer parte da História de Portugal!
Luis Carrilho
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