LENDA
A LENDA DE SÃO VICENTE
A tradição atribui a D. Afonso Henriques a responsabilidade na vinda das relíquias de São Vicente de Sagres para Lisboa. Porém, um investigador do Instituto de Estudos Medievais duvida que esta iniciativa tenha partido do rei.
Reza a lenda que, no século IV, o cristão Vicente de Saragoça foi torturado até à morte pelo imperador Diocleciano por se recusar a oferecer sacrifícios aos deuses pagãos. Com a invasão muçulmana, os seus restos mortais foram colocados num barco à deriva no mar, que daria à costa no Cabo de Sagres. Já no século XII, D. Afonso Henriques prometeu recuperar as ossadas do mártir São Vicente caso conquistasse Lisboa. Fê-lo em 1173 e diz-se que dois corvos protegeram a nau durante a viagem de regresso a Lisboa. São Vicente tornou-se o padroeiro de Lisboa; os corvos e a nau, os símbolos de Lisboa.
Porém, Pedro Picoito, investigador do Instituto de Estudos Medievais, questiona neste artigo (2008) não só a responsabilidade do rei na trasladação das relíquias de São Vicente como a aparente unidade em torno deste novo culto ao padroeiro da cidade.
Uma leitura atenta dos Miracula Sancti Vicentii, o livro de milagres escrito entre 1173 e 1185 por um clérigo da Sé de Lisboa, Mestre Estêvão, permite sugerir que a iniciativa partiu de alguns habitantes da cidade que foram por mar até Sagres depois de terem obtido informações sobre o túmulo de São Vicente junto de moçárabes algarvios.
À chegada a Lisboa, três grupos rivais disputam as relíquias de São Vicente: os moçárabes querem levá-las para a Igreja de Santa Justa, como forma de se apropriarem de um culto importante; os regrantes de São Vicente querem-nas no Mosteiro de São Vicente; e os cónegos da Sé propõem como alternativa a catedral.
Diz o investigador que São Vicente era venerado por todas as comunidades de Lisboa da segunda metade do século XII, mas de forma diferente: para os moçárabes, era um símbolo de resistência ao novo poder vindo do norte; para os cristãos portugueses e francos, um símbolo do domínio sobre o sul conquistado.
A 15 de setembro de 1173, as relíquias foram depositadas na Igreja de Santa Justa. Na manhã seguinte, seriam trasladadas para a capela-mor da Sé e São Vicente tornar-se-ia padroeiro do concelho e da diocese.
Imagem: plano do símbolo de Lisboa (a nau e dois corvos que, segundo a lenda, acompanharam o corpo de São Vicente durante a viagem até Lisboa).
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SEGREDOS DE LISBOA
de Inês Ribeiro e Raquel Policarpo.
edição: A Esfera dos Livros, julho de 2015 ‧ isbn: 9789896267063
SINOPSE
Plano Nacional de Leitura.
Uma Lisboa desconhecida está à nossa espera num museu, num parque de estacionamento ou até numa improvável casa de banho pública no Largo da Sé. Passear pela Lisboa de hoje é caminhar sobre todo um passado desaparecido. Sob os nossos pés, debaixo de linhas de elétrico, ruas asfaltadas e túneis de metro, camadas e camadas de terra revelam histórias de quem por aqui passou, viveu e morreu. Contam momentos, eras, séculos de vivência de fenícios, romanos, muçulmanos, cristãos, uma imensidão de pessoas que nestas colinas deixou a sua marca. No Largo da Sé desça à casa de banho pública e depare-se com os vestígios de um prédio anterior ao terramoto de 1755. Na Rua da Prata, embrenhe-se nas galerias romanas e descubra o que resta do complexo subterrâneo de um antigo fórum romano. Na Igreja de Santo António, por entre portas e escadinhas, aceda ao subsolo por baixo do altar-mor, que é o local mais importante de toda a igreja, onde teve início a história do templo e do santo padroeiro de Lisboa. Inês Ribeiro e Raquel Policarpo guiam-nos por uma Lisboa repleta de segredos, através de vestígios arqueológicos que nos desvendam a cidade de outras eras e de outras gentes. Nestas páginas, alguns locais e momentos regressam à luz do dia e partilham o conhecimento de épocas e sítios que muitos desconhecem. Alguns deles desapareceram para sempre, mas outros ainda estão à espera de ser visitados.