CONTO
HANSEL E GRETEL
Era um vez um casal de camponeses muito pobres que tinha dois filhos: um menino se chamava Hansel, e uma menina que se chamava Gretel.
Uma terrível seca devastara as suas colheitas e, como mal tinham alimentos para passar o inverno, decidiram abandonar os meninos na floresta.
– Talvez sozinhos tenham mais sorte… – decidiram os pais.
Nessa noite, os camponeses deitaram-se com uma imensa tristeza.
Os dois irmãos, que estavam acordados, ouviram a conversa toda.
Primeiro sentiram-se aterrorizados, mas depois Hansel teve uma boa ideia: foi lá fora e encheu os bolsos de pequenas pedras.
Na manhã seguinte levantaram-se muito cedo. Antes de saírem, a mãe deu-lhes um pedaço de pão.
Hansel foi deixando cair as pedrinhas à sua passagem. Chegados a uma clareira da floresta fizeram uma fogueira. O pai, com pesar, disse:
– Não saiam daqui. Nós temos de apanhar lenha para o inverno todo.
Hansel e Gretel aqueceram-se junto à fogueira e colheram as últimas framboesas do outono. O seu sabor recordava-lhes os doces que a mãe fazia nos dias de festa.
Ao cair a noite decidiram voltar para casa.
A Lua iluminava o caminho de pedras que lhes servia de guia.
Quando bateram à porta, os camponeses ficaram muito contentes por voltarem a ver os filhos, e deram-lhes a única coisa que tinham para comer: sopa quente.
Durante algum tempo viveram felizes, até que uma inundação acabou com o pouco que restava. Na despensa não havia mais que umas côdeas de pão.
– Se continuamos assim morremos os quatro à fome – disse a mulher. – Temos de abandoná-los de novo e esperar que tenham um futuro melhor.
Os meninos, que não conseguiam dormir por estarem famintos, voltaram a ouvir a conversa.
Hansel quis novamente ir buscar pedras, mas a porta estava fechada à chave.
– Havemos de ter alguma ideia – disse à irmã.
Na manhã seguinte os camponeses partilharam o pão e foram até à floresta.
Hansel foi deixando cair umas migalhitas para marcar o caminho.
De novo, os dois irmãos ficaram sozinhos junto à fogueira.
Ao anoitecer quiseram regressar a casa mas… os pássaros tinham comido o pão todo! Muito tristes, puseram-se a andar, sem rumo.
De súbito, o vento trouxe-lhes um cheirinho agradável…
– Cheira a doce? – perguntou a Gretel.
– Sim! Às bolachas que a mamã fazia no Natal! – recordou Gretel.
Num abrir e fechar de olhos chegaram a um lugar onde estava a coisa mais maravilhosa que eles alguma vez tinham visto: uma casa com telhado de chocolate, paredes de maçapão, janelas de rebuçado, portas de goma… Um autêntico manjar!
– Gretel, vou comer o teto! Tu, podes começar pelas janelas! – exclamou Hansel.
Estavam tão extasiados que nem repararam que estava alguém os estava a observar…
De repente, a voz aterradora de uma bruxa deixou-os paralisados:
– Que estão a fazer, seus pirralhos?
– É que… ti… ti… tínhamos fome e… – balbuciou Gretel.
– Eu também estou esfomeada! E como vocês comeram a minha casa, agora vou comer-vos aos dois!
Os meninos ficaram petrificados.
Hansel deu a mão à irmã e sussurrou com voz trémula:
– Havemos de ter alguma ideia…
A bruxa arrastou-os para o interior da casa murmurando:
– Este miúdo… cabe na cova de um dente! Terei de o engordá-lo…
Fechou Hansel numa gaiola e obrigou Gretel a ajudá-la com as suas poções.
A casa estava cheia de estátuas estranhas que pareciam vigiar tudo o que se passava.
Gretel todos os dias levava comida ao irmão enquanto a bruxa dizia:
– Quando estiver gordinho, irei assá-lo bem assadinho. AH, AH, AH!
Hansel tranquilizava a irmã:
– Havemos de ter alguma ideia!
Gretel, que conhecia bem as propriedades das plantas, rapidamente se apercebeu de que a bruxa era pitosga e que a poção que preparava era para ver melhor. Assim, decidiu trocar os ingredientes.
– Cada dia vejo menos – protestava a bruxa.
À noite, antes de se deitar, aproximava-se da gaiola e dizia:
– Mostra-me o dedo, para ver o quanto engordaste.
Hansel mostrava-lhe sempre o mesmo osso de frango e ela rosnava:
– Mas… como é que isto pode ser? Todo o dia a comer e continuas magro como um cão!
Aquela artimanha funcionou durante várias semanas, até que um dia a bruxa acordou de mau humor e pensou:
Já estou cansada de esperar! Mesmo que ele não tenha muita carne, os ossos darão para uma bela sopa…
Impaciente, ordenou a Gretel:
– Prepara o forno!
– Estou a mexer a poção – respondeu a menina. – Quer que a deixe assim?
A bruxa pensou que a poção também era importante e aproximou-se do fogão para preparar as brasas.
Como não via bem, meteu a cabeça dentro do forno.
Então Gretel empurrou-a com todas as suas forças e… zás!, fechou a porta.
A malvada da bruxa começou a arder e transformou-se numa nuvem de fumo que invadiu a floresta.
Para libertar o irmão, Gretel puxou-o com tanta força que Hansel saiu disparado da gaiola e partiu uma das estátuas que decoravam a sala.
Ao aproximar-se viu que no seu interior havia… pedras preciosas!
Gretel partiu outra: tinha moedas de ouro!
E mais outra: estava repleta de brilhantes!
Depois de carregarem o tesouro na carruagem da bruxa, Gretel levou consigo o livro de receitas de poções, e Hansel várias telhas de chocolate. Com o estômago cheio seria mais fácil encontrar o caminho de regresso.
Ao cair a noite chegaram a casa.
Os pais, reconheceram logo as vozes deles e, emocionados, saíram à rua para os receber:
– Ai, que saudades vossas!
Os meninos contaram-lhes tudo o que tinha acontecido e mostraram-lhes o tesouro da bruxa.
A partir daquele dia, nunca mais ninguém voltou a passar fome naquela região.
E desde então, todas as noite, sentavam-se os quatro em redor da lareira para partilharem uma bela chávena de chocolate quente.
Hansel e Gretel, de Tina Meroto
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HANSEL E GRETEL
de Tina Meroto; Tradução: Elisabete Ramos; Ilustração: Iratxe López de Munáin.
edição: OQO PT, março de 2014 ‧ isbn: 9788498714890
SINOPSE
Plano Nacional de Leitura.
Livro recomendado para apoio a projetos relacionados com as artes na Educação Pré-Escolar, 1º e 2º anos de escolaridade.
Era uma vez um casal de camponeses muito pobres que tinha dois filhos: um menino, que se chamava Hansel, e uma menina, que se chamava Gretel.
Uma terrível seca devastara as suas colheitas e, como mal tinham alimentos para passar o inverno, decidiram abandonar os meninos na floresta.
E assim foi… Abandonados pelos pais, Hansel e Gretel embrenham-se na floresta e encontram uma casa com telhado de chocolate, paredes de maçapão e janelas de rebuçado. Enquanto desfrutam dos maravilhosos manjares, uma malvada bruxa observa-os e arrasta-os para o interior da casa…
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Em várias versões desta história, uma das mais conhecidas dos irmãos Grimm, a situação inicial é composta por dois elementos: a pobreza da família e a crueldade da madrasta, o primeiro elemento servindo de pretexto ao segundo. Na sua primeira versão de 1812, os irmãos Grimm falavam da mãe mas, em versões posteriores como a de 1819, introduziram a personagem da madrasta, que não estava ligada aos filhos do marido por laços de sangue. Esta adaptação, baseada na primeira versão da história, fornece elementos originais, diferenciando-se de outras interpretações. A verdadeira causa do abandono, neste caso, é a extrema pobreza dos pais.
Tanto o texto como a imagem procuram transmitir a união da família. Não estamos perante uns pais desnaturados, pelo contrário, sentem pena e remorsos por se verem obrigados a tomar uma decisão drástica que acaba por ser errada.
Nesta história, aparecem também os conceitos de perdão e de generosidade. As crianças não guardam rancor aos seus progenitores e, no seu regresso, tudo volta à normalidade e partilham os tesouros não só com os pais mas também com todos os habitantes da região.
De certa forma, Hansel e Gretel são os auxiliadores, como aponta a ilustradora Iratxe López de Munáin: “Trata-se de uma viagem iniciática em que os dois irmãos se veem obrigados a enfrentar situações hostis que os fazem crescer, para se conseguirem transformar em salvadores da situação de miséria em que eles e a família vivem.”
Graças à astúcia de Hansel e aos conhecimentos que Gretel tem das propriedades das plantas, sem desmoralizar perante a adversidade, conseguem superar os problemas e acabar com a bruxa.
Nas ilustrações combina a técnica do guache, que confere planos de cor uniformes, com os lápis de cor, que oferecem massas de textura. Para além disso, utiliza uma paleta de cores concreta para recriar dois ambientes bem distintos: os azuis, cinzentos e amarelos para a floresta, e os roxos, avermelhados e rosas para a bruxa. O branco joga um papel importante, criando distintos planos dentro da mesma imagem, nos quais se desenrola a cena.
Assim, consegue representar dois mundos em que qualquer coisa pode acontecer, onde vivem seres de todo o tipo; alguns, escondidos na floresta, acompanham os protagonistas na sua viagem; outros, pelo contrário, observam tudo o que se passa em casa da bruxa.
Esta personagem foi precisamente a que mais chamou a atenção da ilustradora: “Queria que tivesse uma forte presença e que contrastasse com a aparência doce dos meninos.” Para além disso, acrescenta uma personagem: um cão preto, o seu alter ego que a acompanha nas suas emoções.
Iratxe López de Munáin é a vencedora do Prémio Europeu Cozinha de contos para a melhor proposta de ilustração de Hansel e Gretel, do concurso realizado no âmbito do projeto europeu: Cozinha de contos. Europa a la carte.
Este livro é o resultado do referido prémio e vem acompanhado por um CD de música gravado pela Orquestra Filarmónica Cidade de Pontevedra, que recolhe uma seleção instrumental de diversos fragmentos da ópera Hansel e Gretel. Esta ópera foi composta em 1891 e 1892 por Engelbert Humperdinck, com libreto da sua irmã Adelheide Wette, baseado no conto homónimo dos irmãos Grimm.