PORTUGAL NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX
REGENERAÇÃO
No início da segunda metade do séc. XIX, o Reino de Portugal encontrava-se pobre e desorganizado, principalmente devido a três acontecimentos:
- Invasões napoleónicas
- Guerra civil entre liberais e absolutistas
- Independência do Brasil
As principais atividades económicas (agricultura, criação de gado, extração mineira) encontravam-se bastante atrasadas, por isso Portugal tinha que importar vários produtos de outros países europeus com maior desenvolvimento. Era importante nesta altura desenvolver estas atividades económicas para tirar o Reino desta crise.
A 1851 iniciou-se o movimento de Regeneração. Este movimento procurava o “renascer” da vida nacional, pois queria um novo rumo para Portugal, que se encontrava muito atrasado e pouco desenvolvido.
Durante o período da Regeneração, várias medidas foram tomadas para desenvolver as atividades económicas, o que permitiram a modernização e o progresso do país.
Este período de desenvolvimento apenas foi possível devido à:
- existência de paz no Reino
- estabilidade política após o triunfo do liberalismo
Desenvolvimento da agricultura
Para aumentar a produção de alimentos, os governos liberais tomaram várias medidas para o desenvolvimento da agricultura e para o aumento da área cultivada.
Medidas para aumento da área cultivada:
- extinção do direito do morgadio, ou seja, do direito do filho herdar todas as terras da família. As terras passaram a ser divididas por todos os filhos para assegurar uma melhor exploração das terras
- entrega de terras pertencentes a nobres e clérigos a burgueses
- entrega de baldios (terras incultas) aos camponeses
Novas técnicas:
- utilização de adubos químicos
- utilização de semementes selecionadas
- alternância de culturas, que pôs fim ao pousio. Desta forma as terras não precisavam de estar um período de tempo sem estarem cultivadas
- introdução das máquinas agrícolas, inclusive a debulhadora mecânica a vapor
Novas culturas:
- batata
- arroz
Desenvolvimento da indústria
A introdução da máquina a vapor na indústria contribuiu de forma significativa para o seu desenvolvimento. Esta inovação permitiu aumentar a produção em menos tempo, o que possibilitou o aumento de lucros.
A produção artesanal foi assim começando a dar lugar à produção industrial por ser mais lucrativa.
Principais diferenças entre produção artesanal e produção industrial:
Produção artesanal | Produção industrial |
Artesãos | Operários |
Oficinas | Fábricas |
Ferramentas simples | Máquinas |
Muito tempo de produção | Pouco tempo de produção |
Pouca produção | Muita produção |
Produtos únicos | Produtos em série |
Produtos mais caros | Produtos mais baratos |
Menor lucro | Maior lucro |
A maior parte das fábricas instauraram-se nas zonas do litoral, principalmente na zona de Porto/Guimarães (indústria têxtil e calçado) e na zona de Lisboa/Setúbal (indústria química e metalúrgica)
Exploração mineira
Com o desenvolvimento da indústria tornou-se necessário desenvolver a exploração mineira por se precisar de matérias-primas e combustíveis. Os metais mais procurados eram o cobre e o ferro. O carvão também foi muito procurado porque nessa época era a principal fonte de energia.
Alteração da paisagem
O aumento dos campos de cultivo e o aumento do número de fábricas e de minas provocaram uma profunda alteração das paisagens. Nas cidades predominavam as chaminés muito altas que enchiam o céu de fumos e maus cheiros.
O FONTISMO
Para promover o desenvolvimento da agricultura, do comércio e da indústria, era necessário a construção de uma boa rede de transportes e de comunicações. Com esse fim, em 1852, foi criado o Ministério das Obras Públicas, dirigido por Fontes Pereira de Melo. Esta política de construção de obras públicas (estradas, pontes, portos, caminhos-de-ferro, ligações teleféricas, etc…) ficou conhecida por fontismo, devido ao nome do seu principal impulsionador.
Surgiram novos meios de transporte e de comunicação, o que permitiu uma maior mobilidade de pessoas, maior circulação de ideias e informações e a deslocação de mais mercadorias em menos tempo.
Desenvolvimento dos meios de transporte e vias de comunicação
Caminhos-de-ferro
A rede de caminhos-de-ferro cresceu de forma muito rápida e ao longo da sua extensão construíram-se várias pontes, túneis e estações.
Em 1856 realizou-se a primeira viagem de comboio, entre Lisboa e Carregado.
Em 1887 inaugurou-se a ligação direta Lisboa-Madrid-Paris. Portugal ficou assim mais próximo do centro da Europa.
Rede de estradas
Iniciou-se também a renovação e construção de novas estradas em todo o país. De forma a facilitar a circulação também se construíram várias pontes.
A partir de 1855 começou a circular na estrada Lisboa-Porto a mala-posta, uma carruagem que transportava o correio e algumas pessoas.
No final do século XIX surgiram os primeiros automóveis.
Portos marítimos e faróis
Para tornar mais segura a navegação costeira construíram-se vários faróis e melhoraram-se os portos marítimos.
Surgiram nesta época os barcos movidos a vapor, primeiro no Rio Tejo, depois na ligação entre Lisboa e Porto e, mais tarde ainda, na ligação aos Açores e Madeira.
Desenvolvimento das comunicações
Os correios foram remodelados, surgindo o primeiro selo-adesivo, o bilhete-postal e os primeiros marcos de correio.
Surgiu também o telégrafo e mais tarde o telefone.
MODERNIZAÇÃO DO ENSINO
O país encontrava-se em modernização, por isso também era necessário que a população se tornasse mais instruída e competente para realizar as mudanças pretendidas. Tomaram-se então várias medidas no ensino:
- Ensino primário:
- Criaram-se novas escola primárias
- Tornou-se obrigatória a frequência nos primeiros 3 anos, com mais um de voluntariado
- Ensino liceal:
- Criaram-se novos liceus em todas as capitais de distrito e dois em Lisboa
- Fundaram-se escolas industriais, comerciais e agrícolas
- Ensino universitário:
- Criaram-se novas escolas ligadas à Marinha, às Artes, às Técnicas e ao Teatro
DIREITOS HUMANOS
Também foram tomadas importantes medidas relacionadas com os Direitos Humanos:
- Abolição da pena de morte para crimes políticos (1852)
- Abolição da pena de morte para crimes civis (1867)
- Extinção da escravatura em todos os territórios portugueses (1869)
OS MOVIMENTOS DA POPULAÇÃO
Contagem da população
Para dar melhor resposta às necessidades da população, tornou-se necessário saber o número de habitantes do país, e onde se concentravam com maior quantidade.
Já se tinham realizadas contagens da população, mas eram pouco exatas pois tinham como base a contagem de habitações e não de pessoas. A estas contagens dá-se o nome de numeramentos.
A primeira contagem rigorosa do número de habitantes do país realizou-se em 1864, ou seja, foi quando se realizou o primeiro recenseamento. Em boletins próprios os habitantes tinham que colocar o nome, o sexo, a idade, o estado civil e a profissão. A partir dessa data realizam-se recenceamentos, ou censos, de 10 em 10 anos.
Crescimento demográfico
Através dos recenseamentos verificou-se o aumento de população desde que se fez o primeiro censo. De 1864 até 1900 a população passou de cerca de 4 milhões de habitantes para 5 milhões.
Este facto justifica-se pela melhoria de condições de vida da população:
- Período de paz e estabilidade política e social
- Melhoria da alimentação, com o aumento do consumo da batata e do milho
- Melhoria das condições de higiene, com a construção de esgotos, distribuição de água através da canalização e calcetamento das ruas
- Melhoria da assistência médica e hospitalar, com o aparecimento de novos medicamentos, divulgação de algumas vacinas e construção de hospitais
Distribuição da população
Verificou-se também que o crescimento populacional não ocorreu de igual forma por todo o território. O aumento de população foi maior no norte litoral, onde se encontravam os solos mais férteis, maior quantidade de portos de pesca e unidades industriais.
Entretanto, em todas cidades verificou-se aumento de população, principalmente as do litoral.
Êxodo Rural
Apesar do desenvolvimento da agricultura, a produção continuava a ser pouca. A mecanização originou despedimentos e as dificuldades no meio rural intensificaram-se. Sendo assim, muitas pessoas decidiram abandonar os campos para ir para as cidades à procura de melhores condições de vida. A este fenómeno dá-se o nome de Êxodo Rural.
Emigração
Entretanto, devido ao aumento da população, não havia postos de emprego para todos nas cidades. Muitos dos trabalhos eram mal pagos apesar de se trabalhar duramente muitas horas diárias.
Sendo assim, muitas pessoas decidiram procurar melhores condições de vida no estrangeiro, sobretudo para o Brasil, pois falava-se a mesma língua e porque havia necessidade de mão-de-obra devido à extinção da escravatura. Muitos emigrantes enriqueceram e ao regressar a Portugal compraram terras, palacetes e vestiam-se luxuosamente. Eram chamados os «brasileiros».
Além do Brasil, foram destinos dos portugueses países da América Central e os Estados Unidos da América.
A VIDA QUOTIDIANA NO CAMPO
Atividades económicas
As principais atividades do meio rural na segunda metade do século XIX continuavam a ser a agricultura, a criação de gado e a pesca nas zonas do litoral.
Na sua maioria,os camponeses não eram donos das terras em que trabalhavam. As terras pertenciam sobretudo à antiga nobreza, proprietários burgueses e a alguns lavradores mais abastados.
O trabalho no campo era muito duro e os rendimentos eram poucos, por isso, os camponeses viviam muito pobremente.
Com a introdução da máquina na agricultura, aumentou-se o desemprego por já não ser precisa tanta mão-de-obra, dificultando ainda mais a vida dos homens do campo.
Alimentação
Os camponeses alimentavam-se sobretudo do que cultivavam. Dos produtos que mais consumiam destacam-se a batata, pão de centeio ou de milho, sopas de legumas e sardinhas. A carne, mais cara e de difícil conservação, era apenas consumida em dias de festa.
Vestuário
O vestuário dos camponeses variava de região para região, de acordo com o clima e com as atividades predominantes.
No interior, era frequente os homens usarem calças compridas, coletes ou jaquetas, e calçavam botas ou tamancos de madeira. As mulheres vestiam saias compridas e usavam lenços coloridos na cabeça.
No litoral, os homens usavam calças curtas ou arregaçadas e geralmente andavam descalços, tal como as mulheres que vestiam saias mais curtas do que as do interior, devido às suas atividades relacionadas com o mar.
Divertimentos
Os divertimentos das pessoas do campo estavam associados sobretudo às atividades do campo (vindimas e desfolhadas) e à religião (feiras, romarias e festas religiosas).
A VIDA QUOTIDIANA NAS GRANDES CIDADES
Atividades económicas
A modernização do país influenciou mais a vida quotidiana das pessoas que viviam nas cidades.
O grupo social dominante era a burguesia, constituído por comerciantes, banqueiros, industriais, médicos, advogados, professores, oficiais do exército e funcionários públicos.
No entanto, a maior parte da população pertencia a grupos de menores recursos. As pessoas do povo trabalhavam sobretudo como vendedores ambulantes, empregados de balcão ou criados nas casas de pessoas ricas.
Com o desenvolvimento da indústria, formou-se um novo grupo social: o operariado. Os operários eram homens, mulheres e até crianças, que trabalhavam duramente nas fábricas muitas horas a troco de pouco dinheiro. Em caso de acidente, não tinham qualquer proteção. Eram despedidos sem qualquer indemnização.
Alimentação
A burguesia e a nobreza tinham uma alimentação abundante e variada. Faziam quatro refeições por dia: pequeno-almoço, almoço, jantar e ceia. Comiam carne, peixe, legumes, cereais, frutas e doces. Surgiram neste período vários restaurantes que trouxeram do estrangeiro novas receitas, como o pudim, a omelete, o puré, o bife e o soufflé.
As pessoas das classes menos privilegiadas alimentavam-se sobretudo de pão, legumes, toucinho e sardinhas.
Vestuário
As pessoas mais ricas das cidades vestiam-se de acordo com a moda francesa. As mulheres vestiam saias até ao chão com roda, com uma armação de lâminas de aço e batanas – a crinolina. Passou também a usar a tournoure, uma espécie de almofada sobre os rins que levantava a saia atrás. Os homens vestiam calças, camisa, colete, casaca e chapéu.
As pessoas mais pobres vestiam roupas bastante simples, adaptadas às tarefas que desempenhavam.
Divertimentos
Os nobres e os burgueses frequentavam os grandes jardins onde passeavam, conversavam e ouviam a música tocada nos coretos. Reuniam-se também nos cafés e clubes, jantares, festas e bailes, iam à ópera, ao teatro e ao circo.
Os divertimentos dos populares era semelhante aos do campo: feiras, festas religiosas e passeios ao campo domingo à tarde.
Revê aqui a matéria/resumo de matemática/síntese de HGP:
EXERCÍCIOS
Teste 1 | enunciado » correção
Nota: apenas o Grupo II se refere a este capítulo.
Teste 2 | enunciado » correção
Nota: apenas o Grupo I se refere a este capítulo.
O que tens de saber neste capítulo, segundo o programa e metas curriculares de HGP – 6º ano:
DOMÍNIO: PORTUGAL DO SÉCULO XVIII AO SÉCULO XIX
SUBDOMÍNIO: PORTUGAL NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX
- Conhecer e compreender o processo de modernização das atividades produtivas portuguesas na segunda metade do século XIX
- Relacionar a dependência de Portugal face ao exterior e a estabilidade política conseguida em meados do século XIX com as tentativas de modernização da economia portuguesa.
- Referir as principais medidas tomadas pelos liberais para a modernização da agricultura portuguesa.
- Referir o alcance limitado do desenvolvimento industrial do país, verificado neste período, destacando as principais zonas industriais na segunda metade do século XIX num país maioritariamente rural.
- Conhecer o desenvolvimento das vias de comunicação e dos meios de transporte operado pela Regeneração e os seus efeitos
- Referir a ausência de uma rede de transportes e comunicação como um entrave ao desenvolvimento do país até meados do século XIX.
- Reconhecer a expansão da rede ferroviária, viária e o desenvolvimento dos meios de comunicação na segunda metade do século XIX.
- Apontar o Estado como o grande impulsionador da rede de transportes e comunicação da segunda metade do século XIX, destacando a ação de Fontes Pereira de Melo.
- Referir as consequências económicas e sociais do desenvolvimento das vias de comunicação, dos transportes e dos meios de comunicação.
- Estabelecer uma relação entre os investimentos realizados com recurso aos mercados internacionais com a grave crise financeira de 1890-92.
- Conhecer e compreender o alcance das medidas tomadas pelos liberais na educação e na justiça
- Enumerar medidas tomadas ao nível do ensino, destacando os seus objetivos e limites.
- Indicar o pioneirismo português na abolição da pena de morte, destacando a existência da pena capital em vários países do mundo na atualidade.
- Relacionar as ideias liberais com a abolição da pena de morte, da escravatura nas colónias e das penas corporais.
- Conhecer e compreender o aumento da população e o êxodo rural verificado na segunda metade do século XIX
- Apontar as razões da diminuição da mortalidade e do consequente aumento da população verificado neste período.
- Relacionar a mecanização da agricultura, o crescimento da população e a melhoria dos transportes com o êxodo rural e emigração verificados neste período.
- Localizar os destinos do êxodo rural e da emigração neste período.
- Conhecer e compreender as características da sociedade e a vida quotidiana nas cidades e nos campos na segunda metade do século XIX
- Conhecer a organização social liberal, por oposição à sociedade do século XVIII.
- Reconhecer o caráter eminentemente rural da economia e sociedade portuguesa.
- Caracterizar a modernização das cidades ocorrida neste período, salientando preocupações que continuam a existir no urbanismo atual.
- Referir o surgimento do proletariado como novo grupo social, destacando as suas duras condições de vida e de trabalho.
- Relacionar as difíceis condições de vida do proletariado com a criação das primeiras associações de operários e as primeiras formas de luta.
- Conhecer as características da arte da segunda metade do século XIX
- Reconhecer a “Arquitetura do Ferro” como a grande novidade da arquitetura do século XIX.
- Identificar as principais construções da “Arquitetura do Ferro” em Portugal.
- Identificar exemplos marcantes da arquitetura de inspiração em estilos do passado (revivalista).
- Enumerar algumas figuras da literatura do século XIX.
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